Corpo Docente

PROFESSORES TITULARES

Anna Carolina Lo Bianco

Ph.D. em Psicologia, University of London,1983 currículo lattes

Luto e morte – da clínica ao laço social

Pesquisando, como bolsista de produtividade, sobre a clínica do câncer, e estando, portanto, frente às questões da morte iminente e do trabalho de luto, mal sabia que, desde março de 2020, quando a OMS decretaria o estado de pandemia, estaria em cheio na problemática que viria a ser parte ainda mais relevante do nosso cotidiano. A pandemia da COVID 19, causada por um vírus altamente contagiante, o coronavírus (SARS COV 2), desde então fez a pesquisa sofrer algumas inflexões importantes. Sobretudo o fato de ser transmitido por contágio entre as pessoas, afetando simultaneamente um número crescentemente expressivo delas, e o fato de ter, como toda pandemia, um fator que incide diretamente sobre a aglomeração — este termo que passamos a ouvir diuturnamente –, ou seja, sobre o coletivo dos habitantes de um lugar, fez com que se ressaltassem a dimensão social, coletiva, da afecção e de tudo que a envolvia. Fez principalmente com que se tornasse mais nítida a formulação freudiana, que nos orientava desde o início, de que o “individual é simultaneamente o social”. O presente Projeto, ao dar continuidade à pesquisa dos recursos psicanalíticos em cancerologia, se dedicando a investigar os meios para estabelecer uma casuística que permita a replicabilidade dos resultados alcançados nas intervenções de cuidados paliativos no câncer, considera agora o alcance de seus resultados em nível social. Ainda centrado na investigação das relações entre a nossa atitude para com a morte e o papel do trabalho de luto, os situa desta vez em uma nova dimensão. Ambos, atitude para com a morte e trabalho de luto, passam a levar em consideração uma face que os relaciona com a sustentação do laço social. Procuraremos nos perguntar sobre as relações entre o lugar que damos à morte e às atitudes para com a vida em sociedade. Que consequências trazem para a vida social a impossibilidade ou as dificuldades interpostas ao trabalho de luto ou às nossas maneiras de viver a morte? Como estamos, se estamos em uma sociedade em que a morte nos é indiferente? Como estamos em uma sociedade em que o luto não pode ser elaborado? Ou o que está envolvido num laço social em que o luto não é respeitado como expressão legítima dos sentimentos trazidos pelo confronto, se não com a morte, pois esta não pode ser propriamente confrontada, mas pelo encontro com a iminência da morte, tão presente no câncer como em muitas outras esferas das sociedades? O que o nosso trabalho com a iminência da morte e o trabalho de luto no câncer poderá nos ensinar sobre o que estamos vivendo nos tempos atuais? Quais as suas consequências para a vida em sociedade e para as políticas que a orientam e a sustentam, que muitas vezes são antes de tudo políticas de morte? Estas são as questões que procuraremos delimitar e formular de maneira mais precisa ao longo da pesquisa.

Joel Birman

Doutor em Filosofia, USP, 1984 currículo lattes

Estética e Sublimação em Psicanálise

A intenção desse projeto de pesquisa é a de pensar no paradigma da psicanálise, tendo o discurso freudiano como referência teórica fundamental, pela via do modelo estético. Para isso, é preciso contrapor os modelos científicos, ético e estético de conhecimento, para articulá-los no contexto da teoria psicanalítica. O desdobramento maior disso é a releitura do conceito de sublimação em psicanálise, na sua possibilidade de interpretação das práticas artísticas e clínicas.

Psicanalise, política e sociedade

Este projeto de pesquisa visa problematizar as relações do sujeito no campo da relação com o outro, nas bordas dos multiplos laços sociais.

Marta Rezende Cardoso

Doutora em Psicanálise, Université Paris VII, 1995 currículo lattes

Trauma, narcisismo e identificação: entre pertencimento e exclusão


Este projeto de pesquisa, fundamentado no saber psicanalítico, visa aprofundar a investigação da questão do trauma com ênfase em sua articulação com a vulnerabilidade psíquica, tendo em vista, inclusive, seu entrecruzamento com situações de precariedade social, individuais e coletivas. A experiência subjetiva do “mal-estar” hoje e suas múltiplas figuras clínicas, em especial aquelas que apontam para a dimensão dos limites e do “extremo”, seus fundamentos e destinos, não cessam de nos interrogar. A este respeito, voltamo-nos para diferentes modalidades de sofrimento identitário-narcísico, a partir de sua correlação com as fronteiras entre ego e objeto, ego e espaço corporal, sendo o narcisismo e a identificação conceitos centrais nesta investigação. Considerando a
complexidade e o caráter indissociável da relação entre subjetividade e universo sócio cultural, a singularidade das configurações subjetivas e da formação do laço social na atualidade constitui um dos principais focos deste projeto.

Tania Cristina Rivera

Doutora em Psicologia, Université Catholique de Louvain, Bélgica, 1996 currículo lattes

Arte Contemporânea Brasileira e a Arquitetura do Sujeito

A partir do questionamento crítico das noções de expressão e de participação na produção artística brasileira, essa investigação visa refletir sobre o lugar do sujeito na arte. A psicanálise oferece uma base teórica fundamental por caracterizar o conceito de sujeito em oposição ao de indivíduo e identidade, assinalando em seu cerne uma divisão que o constitui como outro para si mesmo. A alteridade como condição primordial do sujeito permite repensar sua relação com o outro e com a Cultura mais amplamente, o que traz importantes incidências no campo da arte. O projeto visa o estudo crítico da produção contemporânea brasileira de modo a ressaltar e desenvolver a reflexão nela encetada a respeito da alteridade e dos modos de articulação do objeto, do ato e da construção do espaço em prol de uma emergência do sujeito. Contudo, longe de ser tomada como referência exclusiva, a psicanálise põe-se em entrelaçamento com autores como Merleau-Ponty, Maurice Blanchot e Jean-Luc Nancy, entre outros.

Potências Poéticas e Políticas do Delírio

Busca identificar e investigar modos desviantes de construção de realidade, explorando os campos culturais e históricos ligados à loucura, ao uso de drogas, à apresentação anormativa do corpo e à marginalidade em interconexão crítica com a produção literária, visual e performática atual. Objetiva a modelização teórica dos sistemas de representação operativos nestes campos de modo a ultrapassar sua classificação em termos do que eles recusam e positivar o que propõem, acentuando a dimensão política de suas ações e pondo em relevo sua reflexão ativa acerca do sujeito, do objeto e do corpo em suas incidências sociais. Em chave multidisciplinar, convoca autores como Sigmund Freud, Gilles Deleuze, Fernand Deligny, Jacques Lacan, Michel Foucault e Walter Benjamin. Tenta problematizar a escrita crítico-teórica de modo a recusar a posição de neutralidade do autor e propor escritas experimentais e ensaísticas nas quais sua presença seja ativada de modo fiel a seu objeto de estudo. O projeto de investigação agraciado pela bolsa do CNPQ foi nomeado “Lugares da Loucura na Arte Brasileira”.

Maria Cristina C. Poli

Doutora em Psicologia, Université Paris 13, 2004 currículo lattes

Narrativas em psic(análise: teorias sexuais, ficções identitárias e outras fantasias à prova da atualidade

Neste projeto de pesquisa visamos ao estudo das modificações que têm operado no âmbito da moral sexual civilizada e suas intersseccionalidades, de raça e história colonial, bem como seus impactos na produção de subjetividades. Denominamos “narrativas” os modos como se presentificam – geralmente de forma inconsciente – no laço social certas leituras e interpretações sobre as relações do sujeito com o corpo próprio e suas relações com o Outro. Trata-se, particularmente, de considerar as diversas versões do que chamamos, na psicanálise, de “teorias sexuais infantis”, “romances familiares”, “fantasia fundamental” ou ainda, de modo mais genérico, o modo peculiar de constituir as formas de “contar-se a si mesmo” e que tem por base as condições discursivas a partir das quais se constroem “ficções identitárias”. Buscaremos elaborar o quanto e de que modo há de fato uma modificação nestas narrativas e como se poderia auferir seus efeitos, que são ao mesmo tempo subjetivos, sociais e políticos. Além disso, concebendo a psicanálise como uma prática, uma teoria e um método investigativo, pretendemos investigar o lugar e função de tais narrativas, sua estrutura ficcional e seus efeitos reais na relação do sujeito consigo mesmo e com seu mundo social visando também analisar aquilo que precisa ser atualizado e retificado na própria teoria psicanalítica de modo a que esteja à altura da subjetividade contemporânea, suas expressões de sofrimento e das soluções sintomáticas encontradas.

PROFESSORES ASSOCIADOS


Angélica Bastos 

Doutora em Psicologia Clínica, PUC-SP, 1996 currículo lattes

O corpo na clínica psicanalítica

A pesquisa atual aborda o corpo na perspectiva do inconsciente. Trata-se de um conjunto de projetos na linha Teoria da Clínica Psicanalítica e consiste num desdobramento de estudos anteriores sobre a direção do tratamento na psicanálise aplicada às psicoses e ao autismo e do lugar do analista nessa clínica. Tais trabalhos se estenderam à debilidade mental às fobias na psicanálise com crianças. Atualmente, investigamos o corpo na clínica psicanalítica com base na obra de S. Freud e no ensino de J. Lacan, isto é, o corpo na estrutura e na clínica dos nós. Enfocamos o corpo, bem como os impasses em sua constituição, nos vários quadros clínicos estudados: o autismo, a esquizofrenia, a paranóia, a histeria, anorexia, etc. A pesquisa vem abordando a elaboração de uma suplência para o corpo (como as máquinas em certos casos de autismo) e as relações entre sintoma, gozo e corpo.

PROFESSORES ADJUNTOS

Amândio Gomes

Doutor em Filosofia, IFCS/UFRJ, 2002 currículo lattes

A atualidade do escrito de Lacan “Kant com Sade”: o modo como se impõe hoje o imperativo da moral universal.

O escrito de Lacan “Kant com Sade” é de muitas maneiras atual, mesmo que tenha sido publicado em 1963 e tratando da Filosofia na Alcova e a Crítica da Razão Prática, obras do final do século XVII. De início porque nos mostra como, ao complementarem-se, apontaram a direção a seguir por Freud,  numa ruptura com a tradição ocidental que atribuía ao homem uma busca natural de seu bem, com o tema “a felicidade no mal”. Pouco mais de um século depois, Freud pode escutar essa “felicidade” no sofrimento do sintoma que na clínica perturbava o  sabermédico. Essa ruptura é histórica mas constitutiva, como aprendemos com Lacan. Ela toca no que o sujeito porta de mais radical: sua divisão. Mas a nós aqui importa destacar nesse texto de Lacan o propósito explícito de Sade de ultrapassar essa divisão, de garantir ao sujeito o encontro atual com seu bem supremo. Mais precisamente, importa destacar esse propósito no mundo contemporâneo, ao localizar o grande Outro que comanda a cruel redução do sujeito à sua condição de um corpo destinado ao gozo que não encontra limite no exercício de sua liberdade.

O trabalho como elaboração na psicose

Nosso projeto propõe uma investigação teórico-clínica do tratamento da psicose considerando como sua estrutura fundamental a ‘foraclusão’ do nome-do-pai. A hipótese que orienta a investigação é a de que uma suplência é possível tomando o trabalho como forma de inscrição social do sujeito. Em particular, interessa-nos a produção e o exame dessa suplência pelo trabalho que visa  articular a clínica psicanalítica das psicoses com a política nacional de inclusão social no campo da saúde mental, no âmbito da qual se organizam os Projetos de Geração de renda no Hospital Dia do IPUB – Instituto de Psiquiatria da UFRJ –, onde é executado o projeto de extensão Laços e Nós.> A política e o discurso da inclusão social têm como propósito remediar a limitação do discurso científico em apreender o que do real irrompe na psicose. A questão é de se determinar se o trabalho (nas oficinas do Hospital Dia ou no trabalho formal que alguns psicóticos podem vir a realizar) pode efetivamente produzir laço social ou se – e aqui a segunda hipótese – o trabalho é justamente a possibilidade de elaboração daquilo que se impõe como falha ou perturbação nos discursos e assim no laço social, tal como testemunha a psicose.

A psicanálise e a ciência

A tese lacaniana de que a ciência tem por condição a foraclusão do sujeito e a foraclusão d’A Coisa tem por fundamento a concepção da ciência moderna como formalização matemática da natureza, tal como em Koyré. O conhecimento científico supõe a matematização, e a matemática aparece aí como uma certa idealização. Interessa-nos examinar como, nesse viés, o foracluído faz sua (re-)aparição – se entendemos que o foracluído também aí (re-)aparece, como na psicose. Muito diferente é a abordagem lacaniana da ciência a partir de 1971, no seminário 18, “De um discurso que não seria do semblante”. A partir de então a ciência, que passa a ser considerada pelo viés da técnica, revela um modo próprio de amarração do real, e é assim concebida como “escrita”. Ou seja, há uma evidente inflexão na abordagem da ciência por Lacan a partir do seminário 18, quando a ciência, em sua emergência histórica, faz aparecer um “caroço” (Seminário 23) e produz o mesmo mal-estar que o sintoma, no que ele porta de limite da simbolização. A matematização parece ser assim uma possibilidade de escrita na ciência, aquela que esteve em jogo na física, mas não a única. J.-C. Milner sugere que as ciências do vivo, na atualidade, poderiam nos dar uma indicação do que Lacan tinha em vista na sua concepção de ciência como escrita. É uma possibilidade de pesquisa que nos interessa, e que permitiria retomar um problema antigo e bastante instigante, de que trata Kant na Crítica do Juízo, relativo à ciência do vivo em oposição à física. Mais do que opor duas visões antagônicas, a hipótese é de que são duas visadas sobre a ciência em Lacan.

Fabio Malcher

Doutor em Teoria Psicanalítica, Psicologia/UFRJ, 2016 currículo lattes

O laço social possível na psicose e no autismo

O laço social pressupõe uma separação entre o sujeito e a alteridade de tal forma que o sujeito abdique de uma plenitude pulsional ao mesmo tempo em que o Outro se torne menos invasivo e ameaçador. Na psicose e no autismo, essa separação entre sujeito e Outro é problemática, o que acarreta em impasses no laço social, que, ainda assim, é possível, como a clínica nos ensina. A finalidade dessa pesquisa é avançar na exploração do campo do laço social na psicose e no autismo na infância e na adolescência, em especial junto ao projeto de extensão “Circulando e traçando laços e parcerias: atendimento a jovens autistas e psicóticos – do circuito pulsional ao laço social”, por mim coordenado, de modo a contribuir na formação teórica e clínica daqueles que desejem trabalhar junto a estes sujeitos em direção ao laço social possível.

Os impactos discursivos do capitalismo e da ciência e o laço social contemporâneo

A aliança visceral entre a ciência moderna e o modo de produção capitalista produz efeitos na subjetividade contemporânea, afetando discursivamente o sujeito, logo, afetando o laço social atual. A universalização do homem promovida pela ciência, aliada à promessa capitalista de forclusão da castração, afetam a renúncia ao gozo em jogo no laço social, tornando-a cada vez menos aceitável. O imperativo de gozo passa a ser um novo dever moral, ganhando o consumo lugar central enquanto modo de se obter satisfação, um modo menos submetido ao pacto social e à renúncia pulsional, indicada por Freud como sustentáculo da civilização. Objetos de consumo cada vez são mais acessíveis sem a temporalidade desejante ancorada na falta, na frustração, prevalecendo uma relação de gozo com os objetos em detrimento da vertente desejante. A hipótese de um declínio da função paterna ganha relevo como objeto de pesquisa, diante da patente diminuição da autoridade simbólica na contemporaneidade. Como regular o gozo com menores recursos simbólicos, com menor amparo na Lei? Como sustentar a escansão, o corte, em uma temporalidade do imediato, que busca a satisfação cada vez com menos mediação simbólica? Como defender-se da pulsão com um menor recurso aos destinos pulsionais do recalque e da sublimação? Quais as balizas estruturais que explicam o recrudescimento – previsto por Lacan, cumpre dizer – dos processos de segregação na contemporaneidade? São questões atuais e pertinentes para a reflexão teórico-clínica do papel da psicanálise nessa nova configuração pulsional, que vem se tornando hegemônica.

Fernanda Costa-Moura

Doutora em Psicologia Clínica, PUC/RJ, 2000 currículo lattes

Lógica da ciência, formalismo e seus efeitos na adolescência contemporânea

A pesquisa parte das posições de Lacan (1974) que afirmam uma normalidade do fracasso em psicanálise em contraste com o curso da ciência na contemporaneidade. Para Lacan, diferente da ciência que “não tem idéia do que faz” e da religião, feita para “curar os homens do que não funciona” a psicanálise pode nos dar alguma notícia do real. Visando discernir a incidência do real que vigora no campo do sujeito, o trabalho toma o curso atual da ciência e o domínio da clínica – especialmente da clínica psicanalítica com adolescentes – como práxis que dá lugar ao sujeito de que se trata: aquele que sobrevém como resto heterogêneo e, no entanto ineliminável da operação da ciência, testemunhado no real da enunciação. Isolando a suspensão que define a adolescência como o que radicaliza para os jovens a experiência extrema do sujeito desalojado das amarras simbólicas que poderiam balizar seu advento, na contemporaneidade, a pesquisa recolhe o que os adolescentes manifestam desta condição, com nitidez e contundência, em atos tresloucados, patologias e dificuldades de toda espécie. Por esta via chega a articular a crise adolescência, em seu caráter de momento inaugural de subjetivação do desejo, e a marcha da ciência, como pontos privilegiados da conjuntura distintiva da emergência do sujeito na atualidade.

Fernanda Pacheco Ferreira

Doutora em Psicologia Clínica, PUC/RJ, 2008 currículo lattes

Modos de subjetivação contemporâneos

Investigações acerca de modos de expressão do sofrimento psíquico na atualidade e dos dispositivos clínicos para acolher o mal-estar contemporâneo. Pretende-se refletir sobre a elasticidade da escuta psicanalítica, em especial no que diz respeito a modos de padecimento psíquico não neuróticos, modos de subjetivação que extrapolam o modelo predominantemente moderno de subjetividade, para além do campo da representação e da dinâmica do conflito psíquico. 

Julio Verztman

Doutor em Ciências da Saúde, IPUB/UFRJ, 1997 currículo lattes

Experiências de sofrimento e de sobrevivência psíquica em um grupo de pessoas expostas à violência

Pesquisa clínica em psicanálise tomando como objeto de investigação o tratamento psicanalítico de sujeitos alvo de diversos tipos de violência. Tais sujeitos serão encaminhados para atendimento a partir de acordo com o núcleo “Ocupação psicanalítica antirracista, seção Rio”, o qual já trabalha com ONGs e instituições que acolhem sujeitos alvo de violência. O processo de encaminhamento será primeiro a discussão do caso com tais ONGs e instituições, seguindo o trâmite de marcação de entrevistas individuais do sujeito encaminhado com os coordenadores da pesquisa. Em caso de indicação de absorção pelo projeto de pesquisa, ou seja, de enquadre dos sujeitos indicados pela referida ONG aos critérios de inclusão da pesquisa, os entrevistados serão encaminhados para atendimento com psicanalistas que compõem a equipe de pesquisa. Nosso objeto central sera, portanto, a experiencia de atendimento clinico de sujeitos que foram alvo de ou expostos a violencia, incluindo quem se considera ter sido seu alvo direto, ou testemunha de situacoes de violencia. Nossos objetivos serao: a construcao de conceitos teorico-clinicos que esclarecam os impactos das experiencias de violencia na dinamica subjetiva das pessoas atendidas; mapeamento e analise das estrategias de enfrentamento e de sobrevivencia psiquica de que essas pessoas lancaram mao; o mapeamento de tecnicas, formas de manejo e conceitos acionadas na situacao analitica dos casos atendidos, para lidar com as particularidades dessas experiencias. Ofereceremos tratamento por no mínimo 2 anos, período que poderá ser extendido de acordo com indicação clínica e desejo do sujeito.

Simone Perelson

Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise, Université Paris 7, 1999 currículo lattes

Subjetividade, corpo e tecnologia: incidências contemporâneas da tecnociência no corpo e na subjetividade

O projeto de pesquisa compreende três eixos de investigação independentes, porém intrinsecamente articulados.

1º eixo

Objeto: Os novos tipos de laços familiares (homo, multi, mono e transparentalidade) constituídos por meio das Novas Tecnologias Reprodutivas (fundadas na separação entre sexo e reprodução e na ectogênese da vida humana).

O desenvolvimento deste eixo exige a análise rigorosa das noções de complexo de Édipo, diferença entre os sexos, função paterna, identificação e ordem simbólica, de modo a refletir sobre o alcance destas noções para a abordagem das novas formas de laços acima referidas.

2º eixo

Objeto: As novas formas de construção dos corpos generificados (cis, trans e não binário) decorrentes do recurso à medicina (tratamentos hormonais e cirúrgicos). 

No que se refere a este eixo, interessa-nos explorar a teorização lacaniana a respeito da sexuação e as instigantes discussões entre psicanalistas e teóricos incluídos nos chamados estudos do gênero e movimentos “queer” (Butler e  Preciado, entre outres) a respeito do sexo e do gênero

3º eixo

Objeto: A noção de ciborgue (híbrido entre organismo e máquina) proposta por Donna Haraway e desenvolvida por vários outros autores contemporâneos.

Aqui se buscará refletir sobre esta noção à luz da análise da relação entre essa construção e o biopoder nas formas que a pensam Foucault e Deleuze.

Objetivos gerais

1) Refletir sobre a direção a ser tomada pela clínica psicanalítica a partir do surgimento destes novos tipos de laços familiares e de corpos generificados e hibridizados (ou colonizados) pelas tecnociências.

2) Formular uma efetiva contribuição psicanalítica às discussões éticas e jurídicas relativas às novas práticas fundadoras de modelos inéditos de laços familiares e corpos generificados.

3) Propor um modo de ocupação do psicanalista no meio médico onde acontecem as demandas, as decisões e as realizações das novas formas de reprodução da vida e de generificação dos corpos humanos

4) Refletir, a partir deste cenário contemporâneo, a respeito da definição de família, sexo e humanidade.

Novas tecnologias, subjetividade e corpo

Tendo como objeto de pesquisa as novas tecnologias reprodutivas (isto é, as chamadas reproduções artificiais), a pesquisa investiga, em primeiro lugar, os efeitos das novas tecnologias reprodutivas sobre as subjetividades, os corpos e as filiações. Para tal propósito, mostra-se fundamental a abordagem das noções de complexo de Édipo, diferença dos sexos, função paterna e Ordem simbólica. Em segundo lugar, ela busca circunscrever algumas possíveis bases para a constituição de um discurso fundado na ética psicanalítica – a saber, na ética do desejo, a qual aponta para um além do princípio do prazer – que possa ser sustentado no meio tecnocientífico, baseado na moral do bem-estar. Em terceiro e último lugar, a pesquisa busca inscrever seu objeto no campo mais amplo das pesquisas sobre a fusão dos corpos e subjetividades com as mais diversas tecnologias contemporâneas. Aqui, por um lado, se destacam os efeitos libertadores da quebra de uma série de noções fundadas na modernidade – tais como identidade, homem e natureza – assim como de uma série de dicotomias de cunho metafísico – tais como corpo/alma, vida/morte e natureza/artifício -; por outro lado, deve-se apreender o novo contexto biopolítico que possibilita o surgimento das práticas e discursos tecnocientíficos e é por eles ao mesmo tempo alimentado.

Vinicius Darriba,

Doutor em Teoria Psicanalítica, UFRJ, 2003 currículo lattes

Psicanálise e transmissão no contexto da prática em instituição de saúde

A partir de um campo de prática estabelecido há dez anos em um hospital geral, o projeto interroga o lugar do psicanalista nas instituições, com relação à questão da transmissão no âmbito do trabalho com as equipes multiprofissionais. Para isso, propõe articular o que se pode recolher de tal experiência e a conceituação encaminhada por Lacan quanto ao tema da transmissão. Em particular, toma por alvo o que ele desenvolve ao considerá-la sob uma ótica ampliada, não limitada ao contexto da experiência analítica e da formação do analista. Nesse ponto, apoia-se na proposição de que a qualquer contexto de transmissão, relativamente ao saber, importa o que se encontra implicado na posição do psicanalista. Tal proposição é abordada no que tange a sua sustentação nos termos do ensino de Lacan e às consequências que se pode dela extrair para pensar o problema aqui examinado. Nessa conjuntura tem relevo, na pesquisa, a face atual do problema em que se destaca, no que concerne à transmissão do saber, a prioridade à evidência, especialmente no campo em que a doutrina médica se mostra hegemônica. Ao interrogar essa questão, fazemo-lo também na perspectiva de renovar a reflexão sobre a relação entre psicanálise e ciência.

Pesquisadores Associados

Mariana Mollica

Doutora em Teoria Psicanalítica, Psicologia/UFRJ, 2014 currículo lattes

Psicanalise e decolonização: clínica, escrevivencias e mídias populares

Este projeto propõe o desenvolvimento de uma pesquisa-intervenção por meio de uma práxis psicanalítica para tratamento da segregação e da violência de Estado, considerando o racismo estrutural lido sob a perspectiva da pulsão de morte, em Freud, do gozo, em Lacan e de um possível destino sublimatório para a pulsão que venha a operar pelo avesso da necropolítica. Trata-se de diminuir os muros da Universidade para acesso da população das favelas, periferias, do campo e de aldeias indígenas, através da decolonização de teorias e de práticas clínicas, políticas e institucionais por uma via de mão dupla. Visa-se, por um lado, que a universidade abra suas portas para as populações alvo do extermínio, que podem se servir da escuta orientada pela psicanálise e, por outro, que saberes tradicionais de lideranças comunitárias e indígenas – metodologias ainda não validadas pelos cânones acadêmicos – venham a ser legitimadas e passem a permear os espaços de pesquisa, extensão e docência universitárias no nível de graduação e pós graduação.

A pesquisa possui parcerias interinstitucionais, em 4 Universidades Federais; UFRJ, UFMG, UFES e UFRB e é interdisciplinar, vinculando 3 Institutos dentro da UFRJ – Instituto de Psicologia, Escola de Comunicação e Instituto de Psiquiatria e algumas instituições jurídicas e da sociedade civil organizada e popular.  Através da escuta do sofrimento inconsciente, silenciado historicamente pelos processos coloniais que se atualizam psicanalistas, estudantes e pesquisadores do Ocupação Psicanalítica RJ favorecem a consolidação de uma rede de comunicação popular e inovação tecnológica digital para proteção de populações marginalizadas protagonizada pelos próprios sujeitos que habitam os territórios conflagrados na parceria como Portal Favelas.

Esta pesquisa, que se  desenvolveu durante cinco anos de pós doutorado pela CAPES e dois anos de pós doutorado Sênior pela FAPERJ instituiu um projeto de extensão ao longo dos últimos 3 anos e consolidou-se em 2024 em um programa parceiro do Ministério da Justiça que está recebendo financiamento para ampliação da RAAVE – Rede de Atenção a pessoas Afetadas pela Violência de Estado – que visa criar uma política pública no Estado do Rio de Janeiro, vinculada ao SUS e SUAS a partir da coordenação colegiada de mães vítimas da violência do Estado, junto à 12 grupos clínico-políticos de acolhimento psicossocial, articulados à ouvidoria da defensoria pública do Estado do Rio de Janeiro, à equipe psicossocial da defensoria, à ONG Redes da Maré, ao CRP e à FAFERJ de São Gonçalo. O projeto é previsto para dois anos e conta com 2 coordenadores técnicos, 32 bolsistas, estudantes de graduação e pós graduação da UFRJ e da UFF e 100 mães de vítimas da Violência de Estado (pesquisadoras de extensão e bolsistas pelo programa). Estes bolsistas atuam juntamente com os demais pesquisadores e agentes de cuidado na consolidação desta rede de escuta, acolhimento e testemunho dos familiares de vítimas do genocídio de jovens das periferias por agentes públicos. A metodologia de escrevivências coletivas a partir da conversação psicanalítica, a ser colocada em prática durante o próximo período, tem como objetivo não apenas a perspectiva da elaboração do luto de forma coletivizada, mas também a criação de uma memória a ser construída através da enunciação das mães em rede. A publicização de seus testemunhos através da escrita e do registro de produções culturais tem como objetivo a sensibilização e transformação política da sociedade acerca de uma problemática histórica, fundante do laço social brasileiro que se reitera sob a forma das mais cruéis relações de poder e opressão.

Thais Klein

Doutora em Saúde Coletiva, IMS-UERJ e Doutora em Teoria Psicanalítica PPGTP/UFRJ currículo lattes

Experiências de sofrimento e de sobrevivência psíquica em um grupo de pessoas expostas à violência

Pesquisa clínica em psicanálise tomando como objeto de investigação o tratamento psicanalítico de sujeitos alvo de diversos tipos de violência. Tais sujeitos serão encaminhados para atendimento a partir de acordo com o núcleo “Ocupação psicanalítica antirracista, seção Rio”, o qual já trabalha com ONGs e instituições que acolhem sujeitos alvo de violência. O processo de encaminhamento será primeiro a discussão do caso com tais ONGs e instituições, seguindo o trâmite de marcação de entrevistas individuais do sujeito encaminhado com os coordenadores da pesquisa. Em caso de indicação de absorção pelo projeto de pesquisa, ou seja, de enquadre dos sujeitos indicados pela referida ONG aos critérios de inclusão da pesquisa, os entrevistados serão encaminhados para atendimento com psicanalistas que compõem a equipe de pesquisa. Nosso objeto central sera, portanto, a experiencia de atendimento clinico de sujeitos que foram alvo de ou expostos a violencia, incluindo quem se considera ter sido seu alvo direto, ou testemunha de situacoes de violencia. Nossos objetivos serao: a construcao de conceitos teorico-clinicos que esclarecam os impactos das experiencias de violencia na dinamica subjetiva das pessoas atendidas; mapeamento e analise das estrategias de enfrentamento e de sobrevivencia psiquica de que essas pessoas lancaram mao; o mapeamento de tecnicas, formas de manejo e conceitos acionadas na situacao analitica dos casos atendidos, para lidar com as particularidades dessas experiencias. Ofereceremos tratamento por no mínimo 2 anos, período que poderá ser extendido de acordo com indicação clínica e desejo do sujeito.

Entre a psicanálise e outras cosmologias: a experiência psicanalítica no território Brasil

Sustentando-se em uma dimensão epistemológica calcada na hibridez, isto é, que articula diferentes campos do saber, a pesquisa coloca-se na esteira dos questionamentos de uma universalidade abstrata que deixa de responder à particularidade das experiências. Partindo da investigação de figuras da alteridade no pensamento psicanalítico e formas de pensamento alocadas sob o guarda-chuva da decolonialidade, o objetivo é de abrir caminho para definições que não se encerrem universalismos abstratos ancorados em determinados pares de opostos, tais como natureza e cultura, humano e não-humano – binarismos que sustentam a diferença, a segregação e a violência. De que maneira estes aspectos atravessam a experiência analítica? Como podemos pensar a alteridade e a constituição de si nesse contexto? Como a experiência da psicanálise no Brasil contribui para esta discussão? Esses são alguns problemas que essa pesquisa pretende investigar