Corpo Docente

PROFESSORES TITULARES

Anna Carolina Lo Bianco

Ph.D. em Psicologia, University of London,1983 currículo lattes

Corpo e finitude: alteração corporal e restauração narcísica

Descrição: A pesquisa investiga a questão das alterações do corpo e o que elas suscitam em termos das intervenções clínicas que poderão ser estabelecidas a partir daí. De início, se atém à operação que instaura a imagem corporal e à sua dimensão de operação constituinte do sujeito. Em seguida procura situar os efeitos das alterações das imagens corporais sobre o sujeito, justamente este que é sujeito ao corpo que o constitui como tal. Neste ponto está colocada a questão dos recursos terapêuticos que podem ser usados na clínica com pacientes que sofreram alterações da imagem corporal, no sentido de restaurar a operação que constitui e mantém a imagem corporal e o narcisismo, no que estes tocam no problema essencial para a psicanálise que é o desejo de sujeito. Assim, fica delineada a problemática na qual se insere a pesquisa, que é a do encontro com o corpo adoecido, com os limites que ele impõe ao vivente, e à clínica que daí tem a chance de ser instaurada? clínica que visando ao sujeito do desejo não deixa de ser comandada pelo que está implicado de essencial nela, que é a questão do ato que o faz surgir como sujeito.

Joel Birman

Doutor em Filosofia, USP, 1984 currículo lattes

Estética e Sublimação em Psicanálise

A intenção desse projeto de pesquisa é a de pensar no paradigma da psicanálise, tendo o discurso freudiano como referência teórica fundamental, pela via do modelo estético. Para isso, é preciso contrapor os modelos científicos, ético e estético de conhecimento, para articulá-los no contexto da teoria psicanalítica. O desdobramento maior disso é a releitura do conceito de sublimação em psicanálise, na sua possibilidade de interpretação das práticas artísticas e clínicas.

Marta Rezende Cardoso

Doutora em Psicanálise, Université Paris VII, 1995 currículo lattes

Violência, trauma e alteridade: aspectos teóricos e clínicos

O objetivo desta pesquisa é investigar a questão da violência pulsional na subjetividade humana contemporânea, tendo em vista os fundamentos da própria violência psíquica e seus destinos na clínica, levando-se em conta o modo singular como esta tem se apresentado na atualidade, assim como algumas de suas vicissitudes na cultura contemporânea. Examinar o estatuto dessas “novas” psicopatologias, pensar a especificidade do trabalho clínico nos casos onde há particular insistência daquilo que estaria além do representável, trabalhar teoricamente questões relativas às situações que comportam uma dimensão de violência radical, violência situada fora dos limites de um traumático constitutivo – eis algumas das propostas deste projeto teórico-clínico. Trata-se de uma investigação sobre o papel singular da dimensão de trauma e de alteridade em determinados quadros clínicos – tendo em vista os fundamentos e os possíveis destinos do traumático – em especial, nos chamados estados limites. Este projeto visa o estabelecimento de um contraponto desses estados com diversas outras configurações clínicas (nos campos da neurose, psicose e perversão) onde a dimensão de violência psíquica é igualmente relevante. A relação entre violência e processo de criação assim como a problemática adolescência, aqui considerada como fronteiriça, têm lugar de destaque nesta pesquisa.

Tania Cristina Rivera

Doutora em Psicologia, Université Catholique de Louvain, Bélgica, 1996 currículo lattes

Arte Contemporânea Brasileira e a Arquitetura do Sujeito

A partir do questionamento crítico das noções de expressão e de participação na produção artística brasileira, essa investigação visa refletir sobre o lugar do sujeito na arte. A psicanálise oferece uma base teórica fundamental por caracterizar o conceito de sujeito em oposição ao de indivíduo e identidade, assinalando em seu cerne uma divisão que o constitui como outro para si mesmo. A alteridade como condição primordial do sujeito permite repensar sua relação com o outro e com a Cultura mais amplamente, o que traz importantes incidências no campo da arte. O projeto visa o estudo crítico da produção contemporânea brasileira de modo a ressaltar e desenvolver a reflexão nela encetada a respeito da alteridade e dos modos de articulação do objeto, do ato e da construção do espaço em prol de uma emergência do sujeito. Contudo, longe de ser tomada como referência exclusiva, a psicanálise põe-se em entrelaçamento com autores como Merleau-Ponty, Maurice Blanchot e Jean-Luc Nancy, entre outros.

Potências Poéticas e Políticas do Delírio

Busca identificar e investigar modos desviantes de construção de realidade, explorando os campos culturais e históricos ligados à loucura, ao uso de drogas, à apresentação anormativa do corpo e à marginalidade em interconexão crítica com a produção literária, visual e performática atual. Objetiva a modelização teórica dos sistemas de representação operativos nestes campos de modo a ultrapassar sua classificação em termos do que eles recusam e positivar o que propõem, acentuando a dimensão política de suas ações e pondo em relevo sua reflexão ativa acerca do sujeito, do objeto e do corpo em suas incidências sociais. Em chave multidisciplinar, convoca autores como Sigmund Freud, Gilles Deleuze, Fernand Deligny, Jacques Lacan, Michel Foucault e Walter Benjamin. Tenta problematizar a escrita crítico-teórica de modo a recusar a posição de neutralidade do autor e propor escritas experimentais e ensaísticas nas quais sua presença seja ativada de modo fiel a seu objeto de estudo. O projeto de investigação agraciado pela bolsa do CNPQ foi nomeado “Lugares da Loucura na Arte Brasileira”.

PROFESSORES ASSOCIADOS


Angélica Bastos 

Doutora em Psicologia Clínica, PUC-SP, 1996 currículo lattes

O corpo na clínica psicanalítica

A pesquisa atual aborda o corpo na perspectiva do inconsciente. Trata-se de um conjunto de projetos na linha Teoria da Clínica Psicanalítica e consiste num desdobramento de estudos anteriores sobre a direção do tratamento na psicanálise aplicada às psicoses e ao autismo e do lugar do analista nessa clínica. Tais trabalhos se estenderam à debilidade mental às fobias na psicanálise com crianças. Atualmente, investigamos o corpo na clínica psicanalítica com base na obra de S. Freud e no ensino de J. Lacan, isto é, o corpo na estrutura e na clínica dos nós. Enfocamos o corpo, bem como os impasses em sua constituição, nos vários quadros clínicos estudados: o autismo, a esquizofrenia, a paranóia, a histeria, anorexia, etc. A pesquisa vem abordando a elaboração de uma suplência para o corpo (como as máquinas em certos casos de autismo) e as relações entre sintoma, gozo e corpo.

Maria Cristina C. Poli

Doutora em Psicologia, Université Paris 13, 2004 currículo lattes

Sexuação e asserção subjetiva: questões de gênero e identidade para a psicanálise

A leitura psicanalítica da assunção de uma posição sexuada tem como eixo central, tanto para Freud como para Lacan, a operação edípica. É na passagem pelo Complexo de Édipo que o sujeito precisa equacionar sua relação com seu corpo, seus objetos e as demandas do Outro de modo a se situar na partilha dos sexos. Ainda em um tempo anterior, há a constituição narcisica na qual o sujeito aliena seu corpo na imagem projetada pelo amor de seus pais. Nesta pesquisa pretende-se desenvolver a forma como estes dois processos – Édipo e Narcisismo – se cruzam e se interseccionam na constituição de uma imagem de si que seja condizente com a assunção de uma posição sexuada. A hipótese a ser desenvolvida é que só a partir das elaborações de Lacan na década de 70 opera-se uma reviravolta nesta conceitualização que desloca o modo tradicional de leitura destes processos na psicanálise. É no desenvolvimento do campo do gozo e dos discursos, e nos conceitos de semblante e objeto a, e mesmo da função fálica, que uma outra abordagem vai se colocar, rompendo de modo mais direto com uma psicologização normatizante do Édipo. Por diversos motivos, que também pretende-se pesquisar, tal abordagem da sexuação, e suas consequências clínicas e políticas, não é hegemônica, mantendo a psicanálise em uma posição muitas vezes dúbia em relação às normas sociais que regulam as identidades sexuais. Esta investigação é motivada tanto por elementos advindos da clínica – os estranhamentos corporais que predominam na clínica LGBTI -, do laço social – a demanda de reconhecimento que rompe com a norma heterocisnormativa -, e de outras abordagens teóricas, sobretudo da teoria queer, que criticam a forma como a psicanálise tem historicamente abordado estes processos.

PROFESSORES ADJUNTOS

Amândio Gomes

Doutor em Filosofia, IFCS/UFRJ, 2002 currículo lattes

O trabalho como elaboração na psicose

Nosso projeto propõe uma investigação teórico-clínica do tratamento da psicose considerando como sua estrutura fundamental a ‘foraclusão’ do nome-do-pai. A hipótese que orienta a investigação é a de que uma suplência é possível tomando o trabalho como forma de inscrição social do sujeito. Em particular, interessa-nos a produção e o exame dessa suplência pelo trabalho que visa  articular a clínica psicanalítica das psicoses com a política nacional de inclusão social no campo da saúde mental, no âmbito da qual se organizam os Projetos de Geração de renda no Hospital Dia do IPUB – Instituto de Psiquiatria da UFRJ –, onde é executado o projeto de extensão Laços e Nós.> A política e o discurso da inclusão social têm como propósito remediar a limitação do discurso científico em apreender o que do real irrompe na psicose. A questão é de se determinar se o trabalho (nas oficinas do Hospital Dia ou no trabalho formal que alguns psicóticos podem vir a realizar) pode efetivamente produzir laço social ou se – e aqui a segunda hipótese – o trabalho é justamente a possibilidade de elaboração daquilo que se impõe como falha ou perturbação nos discursos e assim no laço social, tal como testemunha a psicose.

A psicanálise e a ciência

A tese lacaniana de que a ciência tem por condição a foraclusão do sujeito e a foraclusão d’A Coisa tem por fundamento a concepção da ciência moderna como formalização matemática da natureza, tal como em Koyré. O conhecimento científico supõe a matematização, e a matemática aparece aí como uma certa idealização. Interessa-nos examinar como, nesse viés, o foracluído faz sua (re-)aparição – se entendemos que o foracluído também aí (re-)aparece, como na psicose. Muito diferente é a abordagem lacaniana da ciência a partir de 1971, no seminário 18, “De um discurso que não seria do semblante”. A partir de então a ciência, que passa a ser considerada pelo viés da técnica, revela um modo próprio de amarração do real, e é assim concebida como “escrita”. Ou seja, há uma evidente inflexão na abordagem da ciência por Lacan a partir do seminário 18, quando a ciência, em sua emergência histórica, faz aparecer um “caroço” (Seminário 23) e produz o mesmo mal-estar que o sintoma, no que ele porta de limite da simbolização. A matematização parece ser assim uma possibilidade de escrita na ciência, aquela que esteve em jogo na física, mas não a única. J.-C. Milner sugere que as ciências do vivo, na atualidade, poderiam nos dar uma indicação do que Lacan tinha em vista na sua concepção de ciência como escrita. É uma possibilidade de pesquisa que nos interessa, e que permitiria retomar um problema antigo e bastante instigante, de que trata Kant na Crítica do Juízo, relativo à ciência do vivo em oposição à física. Mais do que opor duas visões antagônicas, a hipótese é de que são duas visadas sobre a ciência em Lacan.

Fabio Malcher

Doutor em Teoria Psicanalítica, Psicologia/UFRJ, 2016 currículo lattes

O laço social possível na psicose e no autismo

O laço social pressupõe uma separação entre o sujeito e a alteridade de tal forma que o sujeito abdique de uma plenitude pulsional ao mesmo tempo em que o Outro se torne menos invasivo e ameaçador. Na psicose e no autismo, essa separação entre sujeito e Outro é problemática, o que acarreta em impasses no laço social, que, ainda assim, é possível, como a clínica nos ensina. A finalidade dessa pesquisa é avançar na exploração do campo do laço social na psicose e no autismo na infância e na adolescência, em especial junto ao projeto de extensão “Circulando e traçando laços e parcerias: atendimento a jovens autistas e psicóticos – do circuito pulsional ao laço social”, por mim coordenado, de modo a contribuir na formação teórica e clínica daqueles que desejem trabalhar junto a estes sujeitos em direção ao laço social possível.

Os impactos discursivos do capitalismo e da ciência e o laço social contemporâneo

A aliança visceral entre a ciência moderna e o modo de produção capitalista produz efeitos na subjetividade contemporânea, afetando discursivamente o sujeito, logo, afetando o laço social atual. A universalização do homem promovida pela ciência, aliada à promessa capitalista de forclusão da castração, afetam a renúncia ao gozo em jogo no laço social, tornando-a cada vez menos aceitável. O imperativo de gozo passa a ser um novo dever moral, ganhando o consumo lugar central enquanto modo de se obter satisfação, um modo menos submetido ao pacto social e à renúncia pulsional, indicada por Freud como sustentáculo da civilização. Objetos de consumo cada vez são mais acessíveis sem a temporalidade desejante ancorada na falta, na frustração, prevalecendo uma relação de gozo com os objetos em detrimento da vertente desejante. A hipótese de um declínio da função paterna ganha relevo como objeto de pesquisa, diante da patente diminuição da autoridade simbólica na contemporaneidade. Como regular o gozo com menores recursos simbólicos, com menor amparo na Lei? Como sustentar a escansão, o corte, em uma temporalidade do imediato, que busca a satisfação cada vez com menos mediação simbólica? Como defender-se da pulsão com um menor recurso aos destinos pulsionais do recalque e da sublimação? Quais as balizas estruturais que explicam o recrudescimento – previsto por Lacan, cumpre dizer – dos processos de segregação na contemporaneidade? São questões atuais e pertinentes para a reflexão teórico-clínica do papel da psicanálise nessa nova configuração pulsional, que vem se tornando hegemônica.

Fernanda Costa-Moura

Doutora em Psicologia Clínica, PUC/RJ, 2000 currículo lattes

Lógica da ciência, formalismo e seus efeitos na adolescência contemporânea

A pesquisa parte das posições de Lacan (1974) que afirmam uma normalidade do fracasso em psicanálise em contraste com o curso da ciência na contemporaneidade. Para Lacan, diferente da ciência que “não tem idéia do que faz” e da religião, feita para “curar os homens do que não funciona” a psicanálise pode nos dar alguma notícia do real. Visando discernir a incidência do real que vigora no campo do sujeito, o trabalho toma o curso atual da ciência e o domínio da clínica – especialmente da clínica psicanalítica com adolescentes – como práxis que dá lugar ao sujeito de que se trata: aquele que sobrevém como resto heterogêneo e, no entanto ineliminável da operação da ciência, testemunhado no real da enunciação. Isolando a suspensão que define a adolescência como o que radicaliza para os jovens a experiência extrema do sujeito desalojado das amarras simbólicas que poderiam balizar seu advento, na contemporaneidade, a pesquisa recolhe o que os adolescentes manifestam desta condição, com nitidez e contundência, em atos tresloucados, patologias e dificuldades de toda espécie. Por esta via chega a articular a crise adolescência, em seu caráter de momento inaugural de subjetivação do desejo, e a marcha da ciência, como pontos privilegiados da conjuntura distintiva da emergência do sujeito na atualidade.

Fernanda Pacheco Ferreira

Doutora em Psicologia Clínica, PUC/RJ, 2008 currículo lattes

Modos de subjetivação contemporâneos

Investigações acerca de modos de expressão do sofrimento psíquico na atualidade e dos dispositivos clínicos para acolher o mal-estar contemporâneo. Pretende-se refletir sobre a elasticidade da escuta psicanalítica, em especial no que diz respeito a modos de padecimento psíquico não neuróticos, modos de subjetivação que extrapolam o modelo predominantemente moderno de subjetividade, para além do campo da representação e da dinâmica do conflito psíquico. 

Julio Verztman

Doutor em Ciências da Saúde, IPUB/UFRJ, 1997 currículo lattes

Estudo psicanalítico das compulsões em pacientes com diagnóstico psiquiátrico de TOC e patologias afins: uma pesquisa exploratória

Trata-se de um projeto para pesquisa clínica em psicanálise, avaliando aspectos do tratamento psicanalítico oferecido a até 10 sujeitos pelo período mínimo de 2 anos. O critério de inclusão na pesquisa é apresentar sintomatologia compulsiva, e especialmente, mas não exclusivamente, ter diagnóstico psiquiátrico de TOC. A metodologia escolhida será o Estudo Psicanalítico de Casos Clínicos Múltiplos, já utilizado em estudos anteriores do NEPECC e serão analisados 3 eixos principais: presença e qualidade do conflito psíquico; avaliação de aspectos narcísicos em comparação com aspectos edípicos; formas de intervenção e manejo clínico.

Simone Perelson

Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise, Université Paris 7, 1999 currículo lattes

Novas tecnologias, subjetividade e corpo

Tendo como objeto de pesquisa as novas tecnologias reprodutivas (isto é, as chamadas reproduções artificiais), a pesquisa investiga, em primeiro lugar, os efeitos das novas tecnologias reprodutivas sobre as subjetividades, os corpos e as filiações. Para tal propósito, mostra-se fundamental a abordagem das noções de complexo de Édipo, diferença dos sexos, função paterna e Ordem simbólica. Em segundo lugar, ela busca circunscrever algumas possíveis bases para a constituição de um discurso fundado na ética psicanalítica – a saber, na ética do desejo, a qual aponta para um além do princípio do prazer – que possa ser sustentado no meio tecnocientífico, baseado na moral do bem-estar. Em terceiro e último lugar, a pesquisa busca inscrever seu objeto no campo mais amplo das pesquisas sobre a fusão dos corpos e subjetividades com as mais diversas tecnologias contemporâneas. Aqui, por um lado, se destacam os efeitos libertadores da quebra de uma série de noções fundadas na modernidade – tais como identidade, homem e natureza – assim como de uma série de dicotomias de cunho metafísico – tais como corpo/alma, vida/morte e natureza/artifício -; por outro lado, deve-se apreender o novo contexto biopolítico que possibilita o surgimento das práticas e discursos tecnocientíficos e é por eles ao mesmo tempo alimentado.

Vinicius Darriba, Doutor em Teoria Psicanalítica, UFRJ, 2003 currículo lattes

Psicanálise e transmissão no contexto da prática em instituição de saúde

A partir de um campo de prática estabelecido há dez anos em um hospital geral, o projeto interroga o lugar do psicanalista nas instituições, com relação à questão da transmissão no âmbito do trabalho com as equipes multiprofissionais. Para isso, propõe articular o que se pode recolher de tal experiência e a conceituação encaminhada por Lacan quanto ao tema da transmissão. Em particular, toma por alvo o que ele desenvolve ao considerá-la sob uma ótica ampliada, não limitada ao contexto da experiência analítica e da formação do analista. Nesse ponto, apoia-se na proposição de que a qualquer contexto de transmissão, relativamente ao saber, importa o que se encontra implicado na posição do psicanalista. Tal proposição é abordada no que tange a sua sustentação nos termos do ensino de Lacan e às consequências que se pode dela extrair para pensar o problema aqui examinado. Nessa conjuntura tem relevo, na pesquisa, a face atual do problema em que se destaca, no que concerne à transmissão do saber, a prioridade à evidência, especialmente no campo em que a doutrina médica se mostra hegemônica. Ao interrogar essa questão, fazemo-lo também na perspectiva de renovar a reflexão sobre a relação entre psicanálise e ciência.

Pesquisadores Associados

Mariana Mollica

Doutora em Teoria Psicanalítica, Psicologia/UFRJ, 2014 currículo lattes

Psicanálise, política e segregação 

Partir de um pressuposto de que o inconsciente é a política que é estudar a segregação do ponto de vista do sujeito, do ponto de vista psíquico. A pesquisa parte do pressuposto de que o inconsciente é a política (Lacan, 1967), através do estudo da segregação e sua incidência subjetiva no séc. XXI. A atualidade do texto freudiano Psicologia das massas e análise do eu (Freud, 1921) é explorada com os conceitos de objeto e identificação em Freud, que não reduzem a abordagem do laço social ao amor pelo líder, mas, sobretudo, envolve a expulsão de algo estranho-íntimo, que tende a ser eliminado e que reúne os membros de uma comunidade através do ódio. O estudo aborda a extimidade do objeto a, o desenvolvimento posterior do conceito de identificação e o gozo que participa do fenômeno segregacionista, articulado à teoria dos discursos de J. Lacan (1969-1970). Espera-se, assim, investigar as diversas formas de apresentação do fenômeno estruturalmente – racismo, intolerância sexual, étnica, religiosa – considerando particularmente a realidade brasileira. A pesquisa se assenta na análise psicanalítica de três eixos da experiência prática para extrair os fundamentos do tratamento do gozo no processo de segregação: 1) no processo psicanalítico individual; 2) nas supervisões clínico-institucionais da rede estadual de saúde mental do Rio de Janeiro, através da reunião com supervisores do município do Rio e municípios adjacentes, responsáveis pela supervisão dos profissionais dos CAPS e pela intersetorialidade da rede de saúde (atenção básica, educação, assistência e campo jurídico) e 3) na escrita de testemunhos de experiências de violência sofrida em situações de terrorismo de estado, discriminação e segregação.